quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
O desdito
“Mais um dia sendo tomado pelo passado”, me ocorreu esse pensamento logo ao fechar às cortinas do ambiente de meu trabalho, o que me levou a acreditar ser um dia repetitivo, assim, esquecível. Tentando deixar para traz o tédio do expediente e os problemas pendentes, começo a caminhar, na companhia da sombra rastejante que segue os meus passos, “ o tédio ainda me persegue ”, mais adiante, no final da esquina, em um horizonte próximo, avisto a rua tão conhecida e percorrida de minha casa.
Alguns brinquedos colorindo o gramado acinzentado de inverno, brinquedos que pertenciam a mim, e foram preservados pelo tempo, a velhice dos brinquedos ainda assim, aparentavam bem menos que a minha. Ali estava meu sobrinho de 3 anos, arrastando o velho carrinho, (por coincidência o meu predileto),criando estradas na grama e na sua imaginação. Por um instante lembrei-me de quando eu vivia aquela fase, “quantas estradas percorri com ele!” Neste reflexo de memória, corri e o abracei feliz e saudosamente, ele correspondeu ao abraço sorrindo.
Há tempos não recebíamos visita em casa, a presença daquela criança harmonizava aquele lugar, levando o garoto em meus braços, em direção à sala de estar, logo percebi algo errado, minha irmã e mãe em choros agonizantes, mãos trêmulas tapando suas faces. Naquela tarde misteriosa e impensável, minha irmã correu em direção a mim, encolerizada, vítima de um terrível pânico, tomou o garoto de meus braços gritando rouca:
-O que esta fazendo ? Ele está morto!!!
Pestanejei surpreso com o que ouvi, aquilo não fazia nexo!
-Como assim? Morto? Está maluca?
Foi nos braços de minha irmã que encarei a criança, e vi seus olhos acinzentados, sem brilho, feito o gramado de inverno, e seu corpo sem vida, apenas inerte.
Eram 3 da manhã, e o barulho de uma motocicleta rasgando o silêncio da madrugada passando na rua de minha casa, fez-me acordar e livrar-me deste pesadelo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Adorei isso , bem darkness;
Postar um comentário